quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ESPÍRITO DA ALMA - "A BOLA"

Cena 01 – (Palco vazio. Luz fraca. Som de multidão gritando e correndo, sirenes de carros de polícia. José e João entram cada um de um lado do palco correndo de costas um para o outro. Apressados primeiramente e aos poucos diminuem o ritmo, cansados, ambos se aproximam do centro do palco, eles se esbarram, assustam-se moderadamente, viram-se e então percebem que vestem uniformes de times rivais, são torcedores fugindo de mais um confronto entre torcidas. Olham-se.)

José (Com receio, mas não demonstra tenta ser valente.) – Vai encarar é mané?
João (Também com medo não mostra seu verdadeiro sentimento) – Por que? Vai fazer o que bocó?
José – Tá fugindo que nem teu time foge no campo?
João – E tu tá se escondendo vacilão como o técnico do teu timinho? (Clima é tenso. Os dois com medo por não saber qual reação cada um pode ter, mas sem demonstrarem, fingem valentia.)
José – Olha aqui meu irmão ninguém fala assim comigo, não fujo de nada falou... Teu time que é um bando de galinhas...
João – O teu é um bando de urubu só joga em cima da carniça...
José – Teu time é a carniça...
João – O teu morre com a podridão que engole...
José – Chega mané... Aqui alguém vai ter que ganhar...
João – E não vai ser você brother... (Ele empurra José com as duas mãos. José revida o empurrão, fazem isso umas duas três vezes. De repente som de uma bomba de efeito moral assusta ambos que sem perceberem se abraçam com medo, seguram a cena por alguns segundos, gritaria, sirenes, aos poucos o som abaixa. Os dois se olham se soltam rapidamente, se distanciam um pouco.)
José – Tá me estranhando é cara?
João – Eu sou macho, agora você mano...
José (Irritado.) – Olha fica na tua cara, chega já ter que sair correndo do estádio por causa da briga que tua torcida começou...
João – Minha torcida? A tua que começou essa pancadaria, bando de retardados que não sabe perder.
José – Olha quem fala vocês tavam perdendo vacilão...
João – Foi roubo do juiz, aquele cego, desgraçado, tomara que a mãe dele ferva no azeite...
José – Bando de covardes, isso sim, esse trio de arbitragem tudo ladrão.
João – Com certeza tudo combinado com teu timinho para roubar, conheço é tudo cheio de tretagem...
José – Cala boca meu... Teu time que faz conchavo para ganhar campeonato porque é incompetente pra ganhar soando a camisa no campo...
João (Ele bate no peito com uma das mãos.) – Meu time ganha na raça, o teu nem raça tem mais...
José (Bate também no peito.) – Eu me orgulho da raça do meu time...
João – Vira lata...
José – Poodle (Faz pose de mulherzinha.)
João (Ele avança sobre José.) Seu... (Som de correria de novo. Sirenes, tiros, um tiro acerta as costas de João que cai sobre José que o apóia.)
José – O vacilão que foi? Te acertaram? (Ele que está abraçando as costas de João para dar apoio, vai descendo com ele até o chão do palco. Ao tirar sua mão de trás, vê sangue em sua mão, ele se assusta e grita.)
José – Alguém, socorro, cara não morre, socorro, polícia... (Ninguém aparece. João abre os olhos.)
José – Calma cara alguém vai aparecer...
João – Cara... Eu só vim assistir o jogo... Não queria confusão com ninguém...
José – Sei cara... Eu também não sou de arrumar confusão não, saí correndo para não acabar morto...
João – Deixei minha família em casa, meu filho pediu para eu não vir, minha mulher falou que eu era teimoso.
José – Eu também tô na tua... Minha mãe falou: “não vai sempre dá confusão.”
João – Mas a gente acredita que vai haver paz que todos serão civilizados...
José - Tu fala bem cara... Não sei falar isso não... Eu só vim me divertir, ver o time jogar...
João – Alegria do povo...
José – Mas por causa de uns zés manés vira tragédia.
João – Cara agora tá doendo... (Ele geme.) – Cara avisa minha família, meu filho, minha mulher...
José – Cara tu não vai morrer não... Segura as pontas aí, pô isso era para ser uma festa...
João – Será um enterro... E nem vimos o jogo...
José – Galera maldita... Isso tem que mudar...
João – Nós temos que mudar. Cara tá ficando tudo preto, eu não consigo mais respirar...
José – Não faz isso comigo não cara, eu nem te conheço...
João – Meu nome João...
José – Meu José... (João pende a cabeça e morre.)
José – Não... (Ele grita.)
(Entra narração de um jogo de futebol. Marcação de um gol. O campo delira. O grito de gol invade o palco e plateia.)

FIM


Hoje estreamos a coluna “Espírito da Alma” onde haverá cenas de peças, poesias, literatura, mensagens, mas principalmente vamos focar mais no teatro com cenas criadas para o palco. Hoje com esse texto “A Bola”, criado especialmente para a coluna. Se alguém quiser mandar suas criações elas serão analisadas e se aprovadas publicadas aqui nesta coluna todas as quartas. Espero que gostem da novidade e mandem sugestões e colaborações.
Nosso e-mail:
teatromonteirolobato@globo.com

Provocar galera!!!!

Álbum Alma Espírito!

Janaína e Maria Creuza, mãe e filha no palco, isso dá uma peça!!!!


"Vídeo Arte" - Patê - A desencalhada da cia!!!! Ela tá podendo...


"Vídeo Arte" - "Glee" - "Gold Digger" - Escavador de ouro! Em nossa vida precisamos ser escavadores de ouro, mas do ouro dos bos sentimentos, atitudes, alegrias, podemos escavar muita felicidade para nós!!!

6 comentários:

Jeferson disse...

Boa Tarde

Nossa o pessoal sumiu, vou mandar um texto ai.
Rssss

Anônimo disse...

Amei receber esse e-mail hoje e vir aqui e ler tão bons textos...
Fornece a qualquer alma emoções e vibrações boas. Hoje,em especial, eu estava precisando. Vcs já estão em meus favoritos,agora quanto a divulgar??? Hum...
Mas é claro,tudo o que é bom tem que ser divulgado.
Um grande abraço!!!
Sua fã:
Norma.

Marlene disse...

"Não aprendi dizer adeus, mas deixo você ir, com lágrimas no olhar..."

Boa Noite! Sumiu não Jeff, estou aqui.

Bjs

Eremita disse...

Que o recomeço traga muita Felicidade a todos vocês. O blog está Muito Bom.
Mas, a palavra recomeço fez-me pensar no oposto... no Adeus, então me lembrei que em algumas situações, tive vontade de que o “adeus se danasse”! Tive a sensação de que não havia espaço suficiente para ele em meu coração! O adeus parecia não querer obedecer ao meu comando, à minha vontade, à minha necessidade, à realidade que se impunha! Percebi, então, que meu coração é meio avesso a DECRETOS... Não ter o controle dos sentimentos é realmente perturbador! Sinto que minhas emoções são como cavalos selvagens que não se submetem facilmente a cabrestos, baias ou maneios! Penso que existem diversos “tipos” de ADEUS, de acordo com as pessoas envolvidas e as situações que VIVENCIAMOS. Dizer ADEUS pode ser muito fácil ou muito difícil! Alguns ADEUSES são rápidos e fáceis de dar, de se concretizar, pois são sinônimos de “até logo”! Outros são medianamente demorados e podem ser sinônimos de “até mais ver”! E outros, ainda, levam muito tempo para serem concretizados. Estes são os implacáveis, dolorosos, angustiantes, terríveis, irreversíveis, irremediáveis, derradeiros, definitivos e eternos ADEUS! Percebi que, no último caso, o ADEUS vai acontecendo aos poucos, até se concretizar definitivamente! Este “tipo” de ADEUS tem como seu melhor amigo, CRONOS, o “Senhor do Tempo”. Cada pessoa tem suas escolhas, seus caminhos, suas vivências seu tempo e seu ritmo interno de assimilação e digestão dos fatos. Por mais que desejemos apressar ou retardar o tempo e o ritmo dos outros e o nosso próprio, isso não é aconselhável e nem muito viável, tangível... Mesmo dizendo Adeus... continuo lhe amando!

Luigi disse...

Nota MIL para sua coluna "A Bola".

Pelé disse...

Olha cara você escreve legal, gostei!